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“Samba de Roda Punk”: Mtrror reinventa o rap com poesia marginal sobre beat de Pixinguinha

Faixa de encerramento do EP Noção de Rua, produção de El Gagö sampleia um clássico da música brasileira em um retrato poético e brutal da vivência carioca

Na última faixa do EP Noção de Rua, o rapper Mtrror entrega uma obra que atravessa o ouvinte como um trem sem freio. Intitulada “Samba de Roda Punk”, a música é um cruzamento inusitado e potente entre o lirismo do samba, a agressividade do rap de rua e a sensibilidade de quem escreve com alma.

Produzida por El Gagö, a faixa traz um beat que sampleia ninguém menos que Pixinguinha, lenda da música brasileira. E não é só pela referência que a música chama atenção — é pela coragem de misturar o sagrado com o sujo, o tradicional com o marginal, sem pedir licença pra ninguém.

Uma letra crua com alma de poesia

Logo nos primeiros versos, Mtrror apresenta o tom: “Tamo de corre, elas que o crime / Nós que é o crime”. A dualidade entre desejo e perigo aparece de cara, e segue por toda a música. Há sensualidade, revolta, crítica social e contemplação. É um retrato da juventude urbana — entre o amor, o luto, o baile e o abismo.

Ele transita entre imagens viscerais e existenciais com fluidez:

“Rimando o passado pra colher o futuro / Não ajudou a regar, passa longe do fruto”.

O verso ecoa como um aviso para quem só cola na hora da colheita, sem ter feito parte do plantio — uma crítica afiada às relações interesseiras que rondam a cena.

Mais adiante, a caneta de Mtrror mostra sua força poética e filosófica:

“Hoje tudo cinza, pra onde foi o sol? / Lágrimas correm rios por quem já se foi”.

Em poucas linhas, ele transforma o luto em metáfora, o lamento em arte. É o samba de saudade cantado no beco, com beat pesado e olhar no infinito.

Um samba futurista sobre o caos urbano

A produção de El Gagö é um espetáculo à parte. Ao usar um sample de Pixinguinha, ele cria um ponto de tensão entre o passado e o presente. O resultado é um instrumental híbrido, com alma de choro e corpo de boombap, que sustenta as rimas afiadas de Mtrror como se fosse trilha de um filme de resistência.

A música não tenta ser palatável — ela chega com soco no peito, mas deixa marca na mente. O refrão se repete como mantra:

“As caxa, os troxa, as bunda treme / Medo, tesão ou só as onda sonora”.

Aqui, o corpo é convocado pelo som. Mas no meio da dança e do hedonismo, Mtrror questiona: estamos sentindo medo ou prazer? Estamos dançando ou anestesiando nossas dores?

Final poético para um disco necessário

“Samba de Roda Punk” fecha o EP Noção de Rua como uma carta aberta à realidade. Sem maquiagem, sem glamour, mas com sensibilidade e verdade. Mtrror assume o lugar de cronista de seu tempo, misturando referências do rock, do samba, da favela e da literatura de rua em uma só caneta.

No último verso, ele entrega o coração:

“Meu irmão, não falta com a fé / Vida é um desafio, né não?”

E é com essa frase que ele se despede — com humildade, com peso e com fé. A fé de quem ainda acredita que rima pode salvar, mesmo em um mundo que parece querer destruir.

“Samba de Roda Punk” já está disponível em todas as plataformas dentro do EP Noção de Rua. É um som para ouvir de fone na madrugada, refletindo sobre a vida, o corre e os sonhos. Porque no fim, como Mtrror mostra, a rua também sabe ser poesia.

NdrÉaTropa

NdréaTropa é uma gravadora independente nascida da rua e da essência musical de seus fundadores. Criada por El Gagö — trompetista, produtor musical e artista — em parceria com o produtor ReisNObeat, a NdréaTropa se consolidou como um selo que une visão de futuro, profundidade artística e compromisso com a verdade de cada voz que representa.

 
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Sobre

Este é o espaço oficial da NdréaTropa, onde a cena independente respira, fala e se fortalece. Criado por El Gagö, o blog traz notícias, visões e vivências do rap e funk nacional com olhar direto da quebrada. Aqui, a cultura é prioridade e a rua tem voz.

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